Avenida Brasil mudou o conceito de novela |
Quando Avenida Brasil
teve seu capitulo 179 exibido no dia o 19 de outubro de 2012, o público ficou à mercê da experiente
Gloria Perez, porém, após o estrondoso sucesso de João Emanuel Carneiro (nisso,
pode-se afirmar que Avenida Brasil dividiu a teledramaturgia em antes e depois
dela), a coletividade não se conformava mais com o típico enredo e obviedade da autora e o resultado foi quase imediato: absolutamente ninguém gostou da trama e de suas
ilógicas representações, o que fez com que a novela fosse constantemente
criticada e satirizada.
Expectativa sobre o vilão Felix: ser ele a nova Carminha |
Amor à Vida,
entretanto, foi anunciada em uma hora em que todos estavam esperando para
novamente se prenderem ao horário nobre, e não era por menos pois, apesar de seu
enredo principal ser insosso, o anuncio de um vilão gay, debochado e elegante
fez com que se pensasse que ele seria a nova Carminha da TV brasileira. Walcyr Carrasco
tinha, então, um público avido e ansioso para acompanhar as peripécias de Félix
Khoury. Os capítulos iniciais demostraram agilidade e criavam expectativa nos
telespectadores que simpatizaram, e muito, com o antagonista homossexual no horário nobre.
Mocinha egocêntrica e herói machista |
Mas, com o decorrer de
algumas semanas, se foi percebendo que alguns erros do autor (que muito provavelmente
não notou no momento em que escrevia) comprometeriam a qualidade de sua
produção que marcava sua estreia como novelista do horário das 21:00hs: a grande
quantidade de atores que compunham o elenco de Amor à Vida chegava a
aproximadamente 90 profissionais, e isso somado a tramas paralelas que, em
escala maior de erro, nada tinham a ver com a trama principal. E, se ainda
fosse só isso, era fácil de contornar, contudo os problemas atingiram até mesmo
o núcleo principal: a heroína, Paloma (carinhosamente apelidada pelo público de
Pamonha), o que tinha de tonta, redobrava em egocentrismo; o simpático Felix já
irritava com tanto sal que ele dizia, provavelmente, ter botado na Santa Ceia; o mocinho Bruno era tão enjoado, machista e chato quanto sua paixão nada
convincente pela protagonista e aquele tal de Ninho, bem... sei lá, tinha um cabelo
horroroso (é melhor nem citar cabelo para não lembrarmos das madeixas de Marina
Rui Barbosa e sua morte causada de desgosto e não por um câncer com mais de 90%
de chances de cura).
A bipolaridade de Amarilys: nova função |
De fato, logo a audiência
de Amor à Vida caiu consideravelmente, e o autor teve que alterar mais de 70%
do enredo original, retirando funções de um personagem, pondo em outro,
recolocando aqui e ali, suspendendo outros e o resultado foi uma bipolaridade
nunca vista na história das novelas. Como exemplo disso temos a personagem da Danielle
Winits que se vilanizou para ter o que fazer, já que ser somente ouvinte da
Paloma era por demasiado cruel (a protagonista não falava de outra coisa que
não fosse de si e sua relação com o Bruno e a Paulinha). Ninho foi o que mais
sofreu alterações de personalidade (os detalhes deixo para os colegas do Coisas
de Novela, que, aliás, acompanho todos os dias, parabéns a todos que fazem
parte desse divertido blog!), mas foi perdendo todo o espaço (que nem mesmo
tinha) a cada capítulo.
Propaganda de livro na novela: ridicula |
As merchandising
sociais, constantemente inseridas na história através de diálogos toscos
encabeçados pelo doutor Lutero e companhia, só tornavam a trama cansativa, mas
Wacyr Carrasco superou a si mesmo, no quesito ”Novela Politicamente Correta,” quando
começou a fazer a promoção de livros sempre recomendados pelo próprios personagens
que, volta e meia, estavam com uma obra diferente a cada capítulo, chegando ao
ponto de constranger-nos: em uma discussão
Bruno recomenda a sua filha um exemplar que a faria comportar-se bem!
Amor à Vida, para total
desprazer de quem odiava a música cantada por Daniel na abertura, foi esticada
por mais três meses, totalizando 221 capítulos, para que Em Família, de Manuel
Carlos, pudesse ser gravada e desenvolvida com maestria (uma fatalidade havia
ocorrido na vida do autor), por causa disso, a história de Carrasco girou em torno
de si mesma, tornando-se chata, desinteressante e patética. No fim das contas o
que interessava mesmo eram os acontecimentos no interior da mansão da família Khoury,
cujo patriarca era o rígido doutor Cesar, presidente do Hospital San Magno (e,
para ser bem sincero, nem mesmo a vida de Paloma e seus dramas egoístas prendiam
a atenção), um homem que por diversas vezes traiu sua esposa Pilar (interpretada
pela Suzana Vieira) com algumas mulheres durante sua vida de casado.
Aline usando sua calcinha em seu plano de vingança |
Aline, uma
mulher fria e calculista, arquitetou uma vingança (digna de uma jumenta) contra
Cesar em que incluía “tirar a calcinha” (créditos para o Coisas de Novela) e
transar com ele durante 190 capítulos seguidos! E depois de tanto tempo, cegá-lo
de amor (literalmente), deixa-lo mais burro que uma porta, roubar todo o seu
dinheiro e matá-lo (parabéns, Aline, você merece o prêmio de vingadora mais
idiota da teledramaturgia, se tivesse me procurado eu teria te recomendado, só
para começar, a série Revenge para você aprender o que é vingança de verdade).
Entretanto foi nos 45 minutos
do fim do segundo tempo que Amor à Vida surpreendeu e emocionou: a grande
revelação sobre o sequestro de Paulinha, a culpabilidade do Felix e posterior
redenção reconquistaram o público, fazendo com que o mesmo acompanhasse até o último
momento o fim daquele que foi vilão e tornou-se o mocinho mais querido da
novela, ofuscando um casal chato, enjoado e egocêntrico.
Felix: de vilão à mocinho mais querido do publico |