sábado, 18 de janeiro de 2014

DR. LECTER CONVIDA O PÚBLICO A ENTREGAR-SE À LOUCURA

Hannibal Lecter.

Psiquiatra renomado;
Apreciador de música clássica, artes plásticas e ávido leitor;
Exímio culinarista;
Amigo de confiança;
canibal psicopata.



Algumas das características do famoso Hannibal, por todos admirado e respeitado... ou pelo menos essa é a opinião dos que conheceram Lecter e permaneceram vivos.

Porém, suas vítimas não diriam a mesma coisa.












Em 2013, a NBC estreou a série “Hannibal”, baseada nas obras de Thomas Harris sobre o doutor canibal mais famoso da literatura norte-americana. Apesar da baixa audiência nos EUA, o show apresenta-se com uma qualidade altíssima de roteiro, adaptação, fotografia, trilha sonora e atuação.
Os produtores da série foram bastante corajosos em fazer uma releitura dos clássicos filmes dirigidos por Ridley Scott, Brett Ratner, Jonathan Demme, onde o doutor é interpretado pelo vencedor do Oscar de Melhor Ator Sir Anthony Hopkins (The Silence of the Lambs), o que já por si só é um feito e tanto, uma vez que aventurar-se na área do remake é algo perigoso: ou se cai na cópia, ou desrespeita todo o trabalho anterior a ponto de torná-lo irreconhecível (vide Hannibal: A Origem do Mal.)


A Origem do Mal destrói a psicopatia do personagem, uma vez que para ser um psicopata, é necessária a ausência de sentimentos ou qualquer tipo de vínculo emocional que o faça fraquejar. Em outras palavras, um psicopata não se TORNA um psicopata, ele o é por natureza. Só isso basta para dizer que Hannibal Rising retirou a essência do doutor, já que o vemos motivado por desejos vingativos por causa de sua irmãzinha de cabelos dourados. Thomas Harris tentou encontrar motivos para explicar as atitudes e assim justificar Hannibal, dando-nos a origem de todos os males que cercam a vida adulta de Lecter, falhando miseravelmente. Aliás, traindo-se miseravelmente (já que as obras literárias foram escritas por ele). Preciso destacar a péssima atuação de Gaspard Ulliel como o jovem Hannibal, atribuindo-a o adjetivo de pavorosa. Ou melhor... nem precisa-se destacar, é visível.

A série da NBC possui ganchos com os filmes clássicos, capazes de encher os olhos dos telespectadores mais atentos com análises psicológicas, diálogos bem construídos e recorrentes, marcando a personalidade dos personagens, nos fazendo acreditar que eles realmente existiram e possuem aquelas opiniões acerca da filosofia, teologia e da ciência.


É interessante notar que não presenciamos, inicialmente, o doutor Lecter assassinando e alimentando-se de carne humana, para efeito do telespectador simpatizar com o homem que é, aos poucos, construído nas telas. A relação de Will Graham com o psiquiatra e amigo também é construída aos poucos, baseando-se primeiramente em algo profissional, até que vemos que, afinal, eles são deveras parecidos e ao mesmo tempo possuem conceitos distintos no modo de agir e pensar. Como no filme Red Dragon, em que há uma cumplicidade entre os personagens na resolução dos casos criminais, vemos essa recorrência na série, onde Lecter (como psiquiatra e conselheiro) participa ativamente das investigações ao mesmo tempo que faz isso, está por trás dos principais eventos que movem a história.
O telespectador, entretanto, é o único que sabe das atrocidades cometidas pelo irrepreensível profissional, isso acaba tornando-o cúmplice e testemunha ocular dos fatos, porém, com a diferença, de que ele não pode se manifestar contra nem a favor do criminoso.

Por essas razões todos deveriam aceitar o convite e entregar-se à loucura proposta pela trama.


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