sexta-feira, 13 de março de 2015

A DECEPCIONANTE NOVELA IMPÉRIO

Em Família foi o maior fracasso das 21h
Império estrou no dia 21 de julho de 2014, com a responsabilidade de recuperar a audiência perdida com o maior fracasso do horário nobre Em Família, não era uma tarefa das mais justas, afinal, como atrair os telespectadores após tantos meses de marasmo? A equipe de marketing da Rede Globo decidiu investir pesado na divulgação de sua nova novela com chamadas eletrizantes. Após terem gravado as cenas iniciais, a personagem de Drica Moraes foi a primeira a ser apresentada ao público.

Cora, detentora do poder da maldade
“A chamada foi tão impactante que pensei na hora: ‘finalmente uma vilã que iria destronar Carminha’, eu já conhecia o trabalho da Drica de produções anteriores, por isso, aguardava com muita ansiedade o dia da estreia”, comentou Rafael Venâncio, autor do romance A Prostituta. O escritor se mostrou surpreso com a apresentação: “'O poder da maldade: quem tem, acha que pode tudo’. Sem dúvida alguma, o que fez me interessar por Império foi esta frase, cujo efeito é de arrepiar: a maldade vista como um poder a ser exercido por alguém que, presumivelmente, é inteiramente guiado por ele. Aí, após esse incrível achado, uma risada maligna, sem explicação do porque, faz surgir à imagem de Cora, o nome não é citado, pois é algo que somente o telespectador deve ler, enquanto a face da personagem é mostrada, caracterizando o desconhecimento e completa ausência do amor e da compaixão que o narrador revela. Interessante notar que, em 34 segundos, muitas informações são repassadas: o olhar cruel é o primeiro; um caderno é fechado por aquela mulher; outra mulher que baixa a cabeça de forma melancólica, evidenciando profunda tristeza. A cena é mudada, as duas mulheres estão sobre uma cama, sendo que a mais forte retira das mãos da outra um papel que, a todo custo, a doente quer destruir. ‘Você é fraga até na hora de morrer!’, quem, por Deus, diria algo assim para uma pessoa num leito, provavelmente, morrendo? Com certeza alguém possuidor do poder da maldade. Aí, nos lembramos do que é maldade: ausência de amor, de compaixão, que faz com que as atitudes sejam cruéis, ou seja, quem tem acha que pode tudo. ‘Burra, egoísta! Burra, idiota!’ e, como que para confirmar nossa concepção, a convalescente, diz: ‘Você é má, Cora... ’ de fato, diante de tais provas, ela era má, perversa, sim, era ela a egoísta, mas não burra, nem idiota. A revolta nas palavras era quase palpável, como se ela tivesse chegado ao seu limite, como se a vida a tivesse moldado da pior forma possível. E a câmera se aproxima e nos mostra suas rugas, sua idade, sua pobreza. Apesar de não conhecer sentimentos bons, aquela mulher ‘guarda um segredo... ’ (a imagem é simultânea, veloz: um homem, sobre um penhasco, de braços abertos, não percebe o que se aproxima é aquela cujo poder é o da maldade; o caderno é fechado, em uma atitude de decisão ) ‘capaz de abalar um Império’. Outra voz, de alguém que está abalada emocionalmente. ‘Um segredo?’ esta pessoa indaga confusa. A carta é aberta, letras constam nela, lágrimas descem dos olhos da destinatária. ‘Lê essa carta, que tua vida vai mudar da água pro vinho’, diz a ambiciosa Cora, seriamente”, descreve.
Escritor Rafael Venâncio se impressionou com as chamadas.

Império foi dividida em duas partes, mas sua cena inicial era ambientada nos dias atuais, com Alexandre Nero e Andreia Horta sobrevoando o Monte Roraime. José Alfredo decide caminhar um pouco, sozinho, e neste momento recorda-se de que, quando tinha 22 anos de idade, pisara ali pela primeira vez. Repetindo a frase de que fora a partir daquele momento que sua vida iniciou, a câmera gira e a imagem muda para o jovem José Alfredo, que aparece batendo na porta de alguém. Uma mulher, desconfiada, o atende, indaga quem é e como conhecia Evaldo (Thiago Martins). Outra mulher de dentro da casa responde, gentilmente, que desde que nasceram, pois eles eram irmãos. E assim conhecemos Eliane (Vanessa Giácomo), Evaldo e Cora (Marjorie Estiano). A primeira fase é marcada pelas excelentes atuações de Marjorie Estiano e Chay Suede que mostram um talento nato em sua pequena participação.
Fábio Garcia propôs uma reinterpretação de Império.

Este momento inicial, apesar de ser curto, era ágil e surpreendente, caracterizado pelo realismo no uso de diversos palavrões e a apresentação de anti-heróis intrigantes. Cora, a vilã da trama, se mostrou, como ela mesma se descreveu, prática em suas atitudes. Fábio Garcia, do Blog Coisas de Novela, se colocou do lado da vilã tanto que propôs uma reinterpretação da trama: “Moça vivida e amargurada por não ter vida sexual (ah, acontece, né?), Cora começou a perceber que o futuro Comendador dava uns xavecos furados na sua irmã, e movida por um sentimento decidiu separar o casal. A novela tenta nos passar que esse sentimento foi recalque e amargura.”
José Alfredo e Eliane vivendo uma paixão proibida.
O bom prelúdio garantiu que, já em seu segundo capítulo, a trama de Aguinaldo Silva superasse a audiência do primeiro episódio, conforme noticiado pela redação do site O Planeta TV. Parecia que a Globo acertou em cheio no elenco, na divulgação, direção e, principalmente, o autor. 

Chay Suede na primeira fase: anti-herói. 
Esse átomo durou quatro capítulos ao todo, a partir da quinta feira, dia 25 de julho de 2014, houve a continuidade da segunda fase, explicando as causas e motivos que levou o Comendador e sua filha Maria Clara a se dirigirem ao Monte (o ponto de partida). No percurso conhecemos os personagens Téo Pereira (Paulo Betti), estereótipo da mídia especializada em denigrir a imagem de grandes figuras da sociedade; Claudio Bolgare (José Mayer), o cerimonialista conceituado, que tem um caso secreto com um homem jovem, apesar de casado com a compreensiva e ponderada Beatriz (Suzy Rego); Maria Isis (Marina Ruy Barbosa), amante do comendador; os três filhos destes, devidamente individualizados em suas personalidades e Maria Marta (Lilian Cabral), esposa e cúmplice de José Alfredo bem como aristocrata preconceituosa e impiedosa.
Maria Marta, uma aristocrata impiedosa.
Enquanto isso, no Bairro de Santa Teresa, o telespectador retornava a antiga casa, que há vinte anos, havia sido o lugar onde o comendador conhecera seu único e verdadeiro amor. O lar agora era habitado pelas irmãs Cora e Eliane, bem como os filhos desta última: a batalhadora Cristina (Leandra Leal) e o irresponsável e displicente Elivaldo (Rafael Rosso) que corria o risco de perder a guarda do filho para a mãe Tuane (Nanda Costa), motivo pelo qual Eliane cai enferma e, a beira da morte, é atormentada por Cora que tenta convencê-la a revelar a Cristina que ela era filha de um milionário. Para dramatizar e dar a Drica um maior destaque, Eliane se recusou a fazê-lo, visto que não desejava que sua família se aproximasse de José Alfredo e não descobrisse que a mesma traíra o marido em sua própria casa com o irmão dele. Cora, contrariada, revela seu ódio pela irmã e nega-lhe auxilio em seus últimos momentos.
Cora negou auxilio a irmã convalescente.
As duas tramas se encaixam perfeitamente, culminando para sua união que se aproximava a cada capítulo. Maria Marta se via na difícil tarefa de proteger o filho primogênito da culpabilidade do atropelamento que ele causou a caminho de sua residência em Petropólis. Agindo como uma vilã detentora do poder do dinheiro, manipulou os fatos e silenciou a chantagista Lorraine (Dani Barros) que se apresentou como uma contingência a ser resolvida logo que possível. Império se mostrava uma novela clássica, ou, nas palavras do autor, um novelão. Não era para menos, a audiência devia ser recuperada, era essa a grande missão de Silva.
Drama da personagem Juju Popular resolvido em pouco tempo.

Mas, o enredo ágil e interessante, não se sustentou por muito tempo, após a morte de Eliane, fato ocorrido na segunda semana, Cristina procurou seu pai e foi humilhada, sem nenhum motivo aparente, por ele,  a partir deste momento, a novela entrou num ciclo interminável de repetições onde Cora insistia que a sobrinha reclamasse a herança, Maria Marta se humanizava e os núcleos secundários perdiam a pouca importância que tinham, como foi o caso da história da rainha de bateria Juju Popular (Cris Viana) e o drama de Elivaldo: ambos se resolveram de forma rápida e sem profundidade. De acordo com Silva, em entrevista ao site O Globo, as tramas secundárias, que não estavam ligados a corte medieval pós-moderna ou estavam dentro dela, porém, sem nenhuma participação significativa, eram bem mais fáceis de se solucionar: “Os da corte e os de fora das muralhas tinham seus dramas pessoais, que podiam ser retomados, e resolvidos ou encerrados, a qualquer momento”, disse ele se referindo ao demais personagens que não moravam no apartamento do comendador. Em pouco tempo, a aclamada novela das 21h foi alvo de diversas criticas, principalmente de seu público, o que se manifestou em sua audiência que chegou a marcar, num dia de sábado, somente 24 pontos no IBOPE. Mas, se é bem verdade que Império foi depreciada, não deixou de conquistar telespectadores e críticos fiéis que defendiam o bom desenvolvimento do núcleo principal, encabeçado por Alexandre Nero. Na opinião do comentarista Sérgio Santos do Blog De Olho nos Detalhes, o ator ganhou o melhor personagem de sua carreira, o motivo pelo qual também teceu elogios a atuação e crescimento das personagens de Lilian Cabral e Marjorie Estiano que, por motivos de força maior, retornou a trama substituindo Drica Moraes, como uma Cora rejuvenescida. Além dele, o colunista Jeferson Cardoso, afirmou que Império tinha um ritmo alucinante e era uma novela de gosto popular que agradava o telespectador, ambos, entretanto, concordavam que os dramas paralelos, de fato, atrapalharam um pouco.

Para Fábio Garcia e Rafael Venâncio, contudo, o erro estava na trama principal: “Aguinaldinho Silva prometeu mundos e fundos. Prometeu uma novela moderna, só que também prometeu uma trama tradicional. Anunciou com pompa duas vilãs, mas entregou apenas ¼ do prato combinado. E a tal história inédita nada mais foi do que um reboot de “Suave Veneno, antigo fracasso do autor da década de 90”, alfineta Fábio, sarcasticamente, na matéria intitulada Mesmo trocando atriz, Império é aquilo lá.
Para Rafael e Fábio o erro estava na trama central.
O romancista complementa: “Foi como se Aguinaldo entrasse num beco sem saída, onde ele tinha atrizes sensacionais (Drica Morais e Lilia Cabral), um enredo empolgante (a disputa da esposa com o marido pelo controle do Império), uma vilã que entraria pra história com suas maldades (Cora, a irmã cruel, a tia manipuladora, interesseira) e uma mocinha correta (Cristina, a sofredora), mas ele preferiu jogar tudo para o alto.” Rafael aponta, em sua análise, que não muito tempo depois, o novelista se perdeu completamente do enredo que havia criado e seus personagens, antes interessantes, se tornaram passivos (Maria Marta), ridículos (Cora), simbióticos (os três filhos do comendador), certinhos (Cristina). “Não há outra explicação que não seja esta: ele se perdeu e, por consequência, Império, antes aclamada pelas suas chamadas eletrizantes e primeira fase impecável, hoje não passa de uma novelinha tosca, medíocre e sem mais nada para apresentar no seu final a não ser um misteriozinho ainda mais tosco (Quem é Fabrício Melgaço?) encabeçado pelo homem das caretas (Maurílio) que tem como vitima o protagonista Comendador escroto”, conclui o escritor, desapontado.

"Aguinaldo a transformou numa personagem patética"
A maior decepção de Império foi a personagem Cora, interpretada pela Drica Moraes, que tinha todas as credenciais para entrar na história da teledramaturgia brasileira como uma das maiores antagonistas vistas, conforme nos fez crer a chamada descrita por Venâncio, mas ela foi se denegrindo a cada capítulo apresentado. Aguinaldo não sabia o que fazer com ela. Em entrevista a Veja, quando questionado sobre o mistério da identidade de Fabrício Melgaço, o autor revelou se tratar se um improviso que não constava na sinopse original e, aproveitando a oportunidade, justificou tal artificio explicando que fez esta alteração por causa da saúde da atriz Drica Moraes que, segundo Aguinaldo, havia sido poupada, ainda quando estava no elenco, de fazer cenas fortes, cabendo-lhe só ingressar no humor. Rafael Venâncio, por sua vez, não perdoa: “Se a questão fosse a Drica, substituída pela Marjorie, ele teria feito-a ficar má, mas preferiu desandar e viajar na maionese Oderich, tornando-a mais patética do que era ao fazê-la ficar doida pra perder o cabaço com o bigodudo de preto, cujos cabelos são espalhafatosos. Não adianta responsabilizar a Drica pelas incoerências que o autor mesmo criou, ou, melhor, improvisou.” Na visão do criador de A Prostituta, Drica não poderia ser culpada pelo fracasso que Império havia se transformado.
Marjorie retorna a trama como Cora Rejuvenescida.


Em meios a elogios e desavenças, Império chegou ao seu último capitulo, exibido no dia 13 de março de 2015, totalizando 203 capítulos ininterruptos, com uma boa audiência e desfecho trágico (a morte do protagonista pelas mãos de seu próprio filho), mas, de fato, a obra de Aguinaldo se mostrou decepcionante. O que, é claro, nos faz reviver um aprendizado antigo: Não julgue um livro pela capa ou, contextualizando, não considere uma novela fenomenal pelas chamadas de 34 segundos.













domingo, 3 de agosto de 2014

SINOPSE DA SEGUNDA EDIÇÃO DE A PROSTITUTA É DIVULGADA

Com exclusividade aqui no Que a Verdade Seja Dita sai a sinopse da segunda edição de A Prostituta feita pelo atuário David Cavalcante da Universidade Federal da Paraíba.
Vamos conferir!

"No calçadão de um dos bairros mais pobres do Rio Janeiro, Janys prepara-se para mais um ornada noturna, mas aquele homem era diferente de todos os anteriores... “Com esse eu iria até de graça”, pensou. Enquanto isso, Paula, uma rica e famosa dama da sociedade, é desmascarada por seu noivo Evandro Linus, porém, não é somente a traição que ela oculta.  Alany, por sua vez, é amargurada, por isso, alimenta seu destrutivo desejo de vingança contra os membros da família Linus e, para alcançar seus objetivos, ajudará Diana em um plano que promete mudar a vida de cada pessoa nesta história."


David Cavalcante

quinta-feira, 20 de março de 2014

O PROTAGONISMO E O ANTI-HEROISMO VENANCIANO

O anti-heroísmo de Rafael Venâncio: humanidade
A Prostituta é a primeira obra do escritor Rafael Venâncio, esse romance cheio de polemicas tem sido palco de análises cuidadosas e comentários vorazes acerca da construção da trama e das personalidades dos personagens que compõem a história. Mas, é exatamente, o papel principal que tem deixado os críticos confusos quanto a quem seria (m) o (s) verdadeiro (s) protagonista (s) porque, em um romance comum, seria natural percebermos, logo de início, os mocinhos e vilões visto que suas atitudes refletem seu caráter e função. Rafael Venâncio, porém, nunca foi adepto de histórias de teor universal, para ele, a obviedade desestimula o leitor ou telespectador a acompanhar o enredo. “Penso que o segredo é alterar a função: misturar mal com o bem e bem com o mal e vê o que é que dá”, afirma o autor, sorrindo, pois é um declarado apaixonado pelo anti-heroísmo. “Esses personagens tornam qualquer trama, no mínimo, interessante”. Neste aspecto, A Prostituta, torna-se referência no quesito: seus personagens transitam, constantemente, entre o bem e o mal e grande parte deles possuem momentos de destaques na trama, dificultando a identificação do (s) protagonista (s).
O anti heroísmo de venanciano difere-se por apresentar personagens capazes de qualquer coisa para conseguir o que querem, sem sequer pararem para pensar nas consequências. “Eles não são, exatamente, bons ou maus, acredito que sejam humanos, e como a maioria de nós, impulsivos, ou seja, tomam atitudes que se arrependerão depois”, Rafael elucida, acreditando que, em situações da vida real, somos todos anti heróis da história de nossas próprias vidas. Por isso, o anti heroísmo venanciano, também, pode ser chamado de humanidade.
Prefaciadora Monick: depende do leitor
Com relação ao protagonismo Monick Fernandes de Oliveira, ao comentar sobre o conteúdo da trama, assevera: “O livro trata da fascinante história de três prostitutas; um homem traído; e uma mulher abandonada no altar”, ou seja, na concepção da comentarista, a obra narra as entrelaçadas histórias das prostitutas Janys, Paula e Alany; ao mesmo tempo que cobre a trama de Evandro Linus, o homem traído por sua noiva e nos comove com o drama de Diana Claire, a mulher abandonada no altar. A partir desta premissa de um pequeno prefácio percebemos que o autor cria uma armadilha para o leitor, levando-o a uma narrativa que, a semelhança de uma telenovela, tem tramas paralelas que se unem e reúnem em dado momento da história, como o escritor Washington Rocha frisou no prefácio da primeira edição do livro: “Rafael Venâncio não é pseudônimo. É um jovem santa-ritense que estreia na literatura com uma novela-folhetim estilo Suzana Flag, no capricho: ‘A Prostituta’”. Desta forma, descobrimos que Paula é a mulher que traiu Evandro com o irmão mais novo dele, Ricardo Linus, e que no passado o induziu a abandonar Diana Claire, no dia do casamento, perante o altar. E logo nas primeiras páginas, fica evidente que Janys é detentora de um segredo que acabará com a vida da Paula se for revelado, simultaneamente, Alany Menezes é outra prostituta, movida por um desejo de vingança contra o Evandro e toda a família dele  que é contratada pela Diana Claire para ajudá-la a elaborar um plano o suficientemente bom para que a ex noiva traída possa se casar com o Evandro.
Os personagens tem momentos de destaques

Rafael Venâncio caprichou na formação da trama e ocultara bem os papeis, fazendo com que a interação com o leitor fosse a protagonista, bem como, a capacidade interpretativa do mesmo se torna sua grande aliada. “O que mais eu gosto, quando leitor, é ser enganado”, Rafael revela, “começar a ler uma história acreditando que aquele personagem é uma coisa, quando, à medida que a trama se desenvolve, ele é outra, completamente diferente do que pensei”.
Monick, entretanto, exime-se da responsabilidade para identificar os papeis principais, transferindo-as para o leitor: ele terá de “descobrir quem realmente é a prostituta, onde se encontra o vilão e quem é o mocinho!” De fato, ela está certa, somente o leitor, seja qual for seu grau de instrução, pode fazer desaparecer as incógnitas existentes nesta em A Prostituta.







sábado, 1 de fevereiro de 2014

AMOR A VIDA TERMINA O CICLO SURPREENDENDO E EMOCIONANDO

Avenida Brasil mudou o conceito de novela
Quando Avenida Brasil teve seu capitulo 179 exibido no dia o 19 de outubro de 2012, o público ficou à mercê da experiente Gloria Perez, porém, após o estrondoso sucesso de João Emanuel Carneiro (nisso, pode-se afirmar que Avenida Brasil dividiu a teledramaturgia em antes e depois dela), a  coletividade não se conformava mais com o típico enredo e obviedade da autora e o resultado foi quase imediato: absolutamente ninguém gostou da trama e de suas ilógicas representações, o que fez com que a novela fosse constantemente criticada e satirizada.
Expectativa sobre o vilão Felix: ser ele a nova Carminha
Amor à Vida, entretanto, foi anunciada em uma hora em que todos estavam esperando para novamente se prenderem ao horário nobre, e não era por menos pois, apesar de seu enredo principal ser insosso, o anuncio de um vilão gay, debochado e elegante fez com que se pensasse que ele seria a nova Carminha da TV brasileira. Walcyr Carrasco tinha, então, um público avido e ansioso para acompanhar as peripécias de Félix Khoury. Os capítulos iniciais demostraram agilidade e criavam expectativa nos telespectadores que simpatizaram, e muito, com o antagonista homossexual no horário nobre.
Mocinha egocêntrica e herói machista

Mas, com o decorrer de algumas semanas, se foi percebendo que alguns erros do autor (que muito provavelmente não notou no momento em que escrevia) comprometeriam a qualidade de sua produção que marcava sua estreia como novelista do horário das 21:00hs: a grande quantidade de atores que compunham o elenco de Amor à Vida chegava a aproximadamente 90 profissionais, e isso somado a tramas paralelas que, em escala maior de erro, nada tinham a ver com a trama principal. E, se ainda fosse só isso, era fácil de contornar, contudo os problemas atingiram até mesmo o núcleo principal: a heroína, Paloma (carinhosamente apelidada pelo público de Pamonha), o que tinha de tonta, redobrava em egocentrismo; o simpático Felix já irritava com tanto sal que ele dizia, provavelmente, ter botado na Santa Ceia; o mocinho Bruno era tão enjoado, machista e chato quanto sua paixão nada convincente pela protagonista e aquele tal de Ninho, bem... sei lá, tinha um cabelo horroroso (é melhor nem citar cabelo para não lembrarmos das madeixas de Marina Rui Barbosa e sua morte causada de desgosto e não por um câncer com mais de 90% de chances de cura).  
A bipolaridade de Amarilys: nova função
De fato, logo a audiência de Amor à Vida caiu consideravelmente, e o autor teve que alterar mais de 70% do enredo original, retirando funções de um personagem, pondo em outro, recolocando aqui e ali, suspendendo outros e o resultado foi uma bipolaridade nunca vista na história das novelas. Como exemplo disso temos a personagem da Danielle Winits que se vilanizou para ter o que fazer, já que ser somente ouvinte da Paloma era por demasiado cruel (a protagonista não falava de outra coisa que não fosse de si e sua relação com o Bruno e a Paulinha). Ninho foi o que mais sofreu alterações de personalidade (os detalhes deixo para os colegas do Coisas de Novela, que, aliás, acompanho todos os dias, parabéns a todos que fazem parte desse divertido blog!), mas foi perdendo todo o espaço (que nem mesmo tinha) a cada capítulo.
Propaganda de livro na novela: ridicula

As merchandising sociais, constantemente inseridas na história através de diálogos toscos encabeçados pelo doutor Lutero e companhia, só tornavam a trama cansativa, mas Wacyr Carrasco superou a si mesmo, no quesito ”Novela Politicamente Correta,” quando começou a fazer a promoção de livros sempre recomendados pelo próprios personagens que, volta e meia, estavam com uma obra diferente a cada capítulo, chegando ao ponto de constranger-nos:  em uma discussão Bruno recomenda a sua filha um exemplar que a faria comportar-se bem!

Amor à Vida, para total desprazer de quem odiava a música cantada por Daniel na abertura, foi esticada por mais três meses, totalizando 221 capítulos, para que Em Família, de Manuel Carlos, pudesse ser gravada e desenvolvida com maestria (uma fatalidade havia ocorrido na vida do autor), por causa disso, a história de Carrasco girou em torno de si mesma, tornando-se chata, desinteressante e patética. No fim das contas o que interessava mesmo eram os acontecimentos no interior da mansão da família Khoury, cujo patriarca era o rígido doutor Cesar, presidente do Hospital San Magno (e, para ser bem sincero, nem mesmo a vida de Paloma e seus dramas egoístas prendiam a atenção), um homem que por diversas vezes traiu sua esposa Pilar (interpretada pela Suzana Vieira) com algumas mulheres durante sua vida de casado. 
Aline usando sua calcinha em seu plano de vingança
Aline, uma mulher fria e calculista, arquitetou uma vingança (digna de uma jumenta) contra Cesar em que incluía “tirar a calcinha” (créditos para o Coisas de Novela) e transar com ele durante 190 capítulos seguidos! E depois de tanto tempo, cegá-lo de amor (literalmente), deixa-lo mais burro que uma porta, roubar todo o seu dinheiro e matá-lo (parabéns, Aline, você merece o prêmio de vingadora mais idiota da teledramaturgia, se tivesse me procurado eu teria te recomendado, só para começar, a série Revenge para você aprender o que é vingança de verdade).
Entretanto foi nos 45 minutos do fim do segundo tempo que Amor à Vida surpreendeu e emocionou: a grande revelação sobre o sequestro de Paulinha, a culpabilidade do Felix e posterior redenção reconquistaram o público, fazendo com que o mesmo acompanhasse até o último momento o fim daquele que foi vilão e tornou-se o mocinho mais querido da novela, ofuscando um casal chato, enjoado e egocêntrico.
Felix: de vilão à mocinho mais querido do publico





quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Recomendação de Leitura - 2

“Desejos e Mentiras” é um romance direcionado para você que ama mistérios, reviravoltas e personagens cativantes. Escrito por Jasmine Cresswell, a trama narra a historia da família Campbell que sofre com o desaparecimento e provável morte de Claire, vitima de um incêndio criminoso, ocorrido há sete anos. Durante este tempo, farsantes tentam roubar a herança da filha de Andrew, entre elas, Dianna Mason, uma mulher dissimulada, disposta a tudo para impedir a ascensão política do pai de Claire.

sábado, 18 de janeiro de 2014

DR. LECTER CONVIDA O PÚBLICO A ENTREGAR-SE À LOUCURA

Hannibal Lecter.

Psiquiatra renomado;
Apreciador de música clássica, artes plásticas e ávido leitor;
Exímio culinarista;
Amigo de confiança;
canibal psicopata.



Algumas das características do famoso Hannibal, por todos admirado e respeitado... ou pelo menos essa é a opinião dos que conheceram Lecter e permaneceram vivos.

Porém, suas vítimas não diriam a mesma coisa.












Em 2013, a NBC estreou a série “Hannibal”, baseada nas obras de Thomas Harris sobre o doutor canibal mais famoso da literatura norte-americana. Apesar da baixa audiência nos EUA, o show apresenta-se com uma qualidade altíssima de roteiro, adaptação, fotografia, trilha sonora e atuação.
Os produtores da série foram bastante corajosos em fazer uma releitura dos clássicos filmes dirigidos por Ridley Scott, Brett Ratner, Jonathan Demme, onde o doutor é interpretado pelo vencedor do Oscar de Melhor Ator Sir Anthony Hopkins (The Silence of the Lambs), o que já por si só é um feito e tanto, uma vez que aventurar-se na área do remake é algo perigoso: ou se cai na cópia, ou desrespeita todo o trabalho anterior a ponto de torná-lo irreconhecível (vide Hannibal: A Origem do Mal.)


A Origem do Mal destrói a psicopatia do personagem, uma vez que para ser um psicopata, é necessária a ausência de sentimentos ou qualquer tipo de vínculo emocional que o faça fraquejar. Em outras palavras, um psicopata não se TORNA um psicopata, ele o é por natureza. Só isso basta para dizer que Hannibal Rising retirou a essência do doutor, já que o vemos motivado por desejos vingativos por causa de sua irmãzinha de cabelos dourados. Thomas Harris tentou encontrar motivos para explicar as atitudes e assim justificar Hannibal, dando-nos a origem de todos os males que cercam a vida adulta de Lecter, falhando miseravelmente. Aliás, traindo-se miseravelmente (já que as obras literárias foram escritas por ele). Preciso destacar a péssima atuação de Gaspard Ulliel como o jovem Hannibal, atribuindo-a o adjetivo de pavorosa. Ou melhor... nem precisa-se destacar, é visível.

A série da NBC possui ganchos com os filmes clássicos, capazes de encher os olhos dos telespectadores mais atentos com análises psicológicas, diálogos bem construídos e recorrentes, marcando a personalidade dos personagens, nos fazendo acreditar que eles realmente existiram e possuem aquelas opiniões acerca da filosofia, teologia e da ciência.


É interessante notar que não presenciamos, inicialmente, o doutor Lecter assassinando e alimentando-se de carne humana, para efeito do telespectador simpatizar com o homem que é, aos poucos, construído nas telas. A relação de Will Graham com o psiquiatra e amigo também é construída aos poucos, baseando-se primeiramente em algo profissional, até que vemos que, afinal, eles são deveras parecidos e ao mesmo tempo possuem conceitos distintos no modo de agir e pensar. Como no filme Red Dragon, em que há uma cumplicidade entre os personagens na resolução dos casos criminais, vemos essa recorrência na série, onde Lecter (como psiquiatra e conselheiro) participa ativamente das investigações ao mesmo tempo que faz isso, está por trás dos principais eventos que movem a história.
O telespectador, entretanto, é o único que sabe das atrocidades cometidas pelo irrepreensível profissional, isso acaba tornando-o cúmplice e testemunha ocular dos fatos, porém, com a diferença, de que ele não pode se manifestar contra nem a favor do criminoso.

Por essas razões todos deveriam aceitar o convite e entregar-se à loucura proposta pela trama.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

SANGUE BOM FOGE DO MANIQUEISMO E NÃO FAZ CONCESSÃO COM O PUBLICO

O anti-heroísmo de Amora confundiu o publico

 “Sangue Bom”, novela escrita por Maria Adelaide Amaral e Vicent Villari, terminou no dia 01 de novembro de 2013. Apesar de, em audiência, a trama não ter sido um fenômeno, acho que, neste momento, não poderia deixar de ressaltar o quão ousada foi ela e, ao mesmo tempo, apaixonante.
Antes de partir para uma análise crítica, vale dizer, que essa foi a primeira novela que tive o prazer de acompanhar pela internet, em vista de, por causa dos estudos e compromissos que pintavam no horário da exibição, não poder acompanhar, e, sabe, considero ter valido a pena. Desde que vi a primeira chamada dessa novela senti que iria gostar dela: parecia uma novela direcionada para jovens, com temas atuais e divertida (bem, parece que só não fui eu que pensei assim). Claro que, o fato de eu, individualmente, ter gostado dela não implicou (apesar de torcer para isso) em transformá-la em um sucesso de audiência. Eu só comecei a acompanhar Sangue Bom dois meses depois (eu acho, não tenho muita certeza) da estreia! E isso foi por meio da internet (Deus abençoe o homem que inventou-a).
Bento e Malu: personagens com sentimentos estranhos 

O que me chamou a atenção logo de cara foi a ousadia dos autores em botar, assim, na cara dura, uma personagem principal, cujas atitudes não condiziam com o papel que, tradicionalmente, devia ser ocupado por uma personagem doce, meiga, batalhadora, abnegada (tonta, idiota, burra), ou seja, uma anti-heroína. Bem, acredito que todos vocês que me leem agora, saibam do meu fascínio por anti-heroínas (e por falar nisso não deixem de adquirir “A Prostituta”, o primeiro romance do escritor Rafael Venâncio), afinal, tal personagem não é uma criatura sem reação, pelo contrário, para ativar sua esperteza basta pisar nos seus calos, então, o vilão ou a vilã vai aprender que não se deve prejudicar a todas as pessoas e se considerar o mais esperto de todos, como foi o caso de Flora, de “A Favorita”, interessante, não?
Eu afirmo que foi ousadia, porque em nosso país (mesmo com tudo que há de corrupção, descaramento e mentiras na vida real) não se é admissível que haja tamanha imperfeição no personagem que, supostamente, devia lutar contra o mal, a favor do bem, e, se isso significa que ele deva apanhar de todos outros personagens e ser enganado por todo mundo, não importa, “porque no fim o bem sempre vencerá”. Certo, lindo discurso, linda teoria, etc. mas discordo, e muito. Não vou ficar dando minhas razões que me fazem tomar esta posição contraria ao pensamento comum visto que esse artigo não é sobre isso.
Então ela surgiu: Amora Campana, interpretada pela meiguíssima Sophia Charlote, com todas as características do que não estávamos acostumados a ver: uma menina linda, porém entojada; com um passado triste de garotinha abandonada, mas que o renegava; decidida, contudo barraqueira (ei, pera aí, isso todo mundo espera). O público, afirmaram alguns colunistas, ficou “confuso”: COMO ESSA ENTOJADA PODIA SER A PROTAGONISTA? (venhamos e convenhamos: a imprensa foi a primeira que disseminou a “confusão” quando, de muitas formas e por diversos meios, refletia sua própria opinião como se partisse do público). Antes de ir mais a frente, deixem-me explicar uma coisa bem simples: o protagonismo numa trama é o papel central numa história, e esse posto, não implica que, necessariamente, quem vai ocupa-lo será bonzinho, ou que, se for, a história vai deixa-lo inalterável, isso depende de cada autor, cabe a ele decidir o que fará.
Amora Campana demostrou que não era nenhuma flor que se cheire, e desde o primeiro momento, os autores não queriam que o público sequer simpatizasse com ela, aliás, vale dizer, a it-girl “mais badalada do país” não tinha motivos para ser má: foi adotada, viveu numa boa casa e etc., tudo bem, ela foi mesmo assim, porém, ela tinha boas razões: se defender da Lara; dar um freio no vilão bad boy Fabinho, antes que ele transformasse a vida de todo mundo no inferno (e, sendo uma anti-heroína, manipulou Socorro para que falsificasse o exame de DNA), aí esse é o momento que meu leitor vai dizer: “Eu não justifico essa mulher! Ela ignorava o passado, bem como a todos que fizeram parte dele”, e é verdade: Amora fingia que não conhecia Renata, na Para Sempre, depois que ficou rica. Aí eu replico: claro, ela é uma anti-heroína, e se tem uma coisa que eu gosto nesses personagem é que seus defeitos o tornam mais próximos do que chamamos, na ficção, de humanidade, isto é, o ser humano independentemente de sua cultura, é composto por qualidades e defeitos que se manifestam em grandes ou pequenas atitudes, por exemplo, ser altruísta é uma enorme qualidade (que nem todos possuímos), por outro lado ser egoísta é, em aspectos comuns, um pequeno defeito (compreendeu onde quero chegar?), portanto, se Amora tinha, em pequena atitudes, um grau de egoísmo, saiba, que, intimamente, cada um de nós temos... bem diferente daquela heroína abnegada, disposta a renunciar seu grande amor em nome do “bem maior”.
"Sangue Bom" fugiu do maniqueísmo 

“Sangue Bom” fugiu do maniqueísmo, dividiu seu público e brincou com o nosso senso de justiça. Afinal, será que os fins não justificavam os meios? Sentimentos malignos como inveja, ódio, entre outros, não deveriam ser defeitos longe dos ditos mocinhos? Bento foi o clássico herói bonzinho e integro que odiava o personagem Wilson por conta de um trauma do passado (que, cá entre nós, foi mais por causa do orgulho ferido de Bento do que pela expulsão do Kim Parque) e Malu, por sua vez, mesmo com o irritante discurso de boa moça, uma vez ou outra revelava o que sentia pela irmã adotiva: inveja. Mas, muitos de nós, preferimos ignorar isso visto que nenhum deles tomava atitudes explicitas para envazar o que sentiam e, fosse porque eles eram os mocinhos ou porque Amora fazia questão de ser nojenta, os justificamos e crucificamos a anti-heroína por seus “atos vis, torpes e cruéis”.

“Sangue Bom” deixará saudade, não pelo fato de ter sido um estrondoso sucesso de IBOPE (coisa que sequer chegou perto), mas para nos fazer ver o outro lado da moeda de se torcer para um anti-herói: podemos, simplesmente, odiá-lo e nem por isso os autores alteraram sequer uma virgula as atitudes e defeitos de Amora, ou seja, não fizeram concessão com o público.